eu tinha um pc meio merda, um sonho de ser um designer decente que fizesse coisas pra mtv e, aparentemente, um péssimo senso de limites.
minha vida social só veio depois dos vinte. antes disso, meu rolê era outro: passar horas no computador mexendo em programas de edição. e nem era por necessidade urgente de dinheiro, mas por aquela sensação de que eu tinha que estar produzindo.
quando entendi que queria ser designer, logo veio a ideia de que também precisava de um portfólio. e tempo livre começou a parecer tempo desperdiçado. o que antes era só fuçar ferramentas de design por tédio virou uma pressa constante de não deixar nada passar. e, junto com isso, veio a culpa.
o dilema de negar projetos e sentir que tava deixando passar *aquela* oportunidade única que podia mudar minha carreira. eu sou bem emocionado, se você leu dois textos meus aqui, acho que já deu pra perceber.
já deixei de descansar no carnaval porque o cliente só respondeu uns dias antes e fiquei com medo de dizer que não dava mais. já aceitei projetos em momentos péssimos da minha vida porque achei que podiam me render algo no futuro, mesmo com todos os sinais de que era uma furada. e, três anos atrás, passei o natal sozinho fazendo o logo de um filme dos meus diretores favoritos. o email chegou na metade de dezembro (como sempre), com a primeira entrega para os primeiros dias de janeiro (claro). tinha acabado de fazer trinta anos e me peguei pensando: eu nem gosto de natal, mas por que ainda aceito isso do mesmo jeito de anos atrás?
me bateu uma badzinha.
o medo de perder essa oportunidade fez com que eu aceitasse todas as condições por uma promessa de algo incrível que talvez viesse depois. de novo.
depois desse rolê de trabalhar no natal, caiu a ficha: por anos, achei que amava ser designer mais do que qualquer coisa, mas talvez eu só não soubesse muito bem quem eu era sem isso. sem perceber, o design (ou melhor, a minha carreira. mas falar design aqui é mais dramático) virou minha única referência do que importava. todo o resto foi ficando em segundo plano.
nos últimos três anos, tentei equilibrar essa conta. nessa época, eu já estaria estressado e animado pra ir em todos os blocos que visse pela frente, curtindo com meus amigos, ouvindo música boa (e outras nem tanto), vivendo tudo que antes eu não me permitia. e sempre no modo intensidade máxima.
mas, pô, confesso que esse ano eu tô meio cansadinho. talvez seja por ter sido um começo de ano mais agitado do que o normal, talvez seja só meu corpo pedindo um pouco mais de equilíbrio. mas, diferente de antes, não tô com aquela culpa de que tô perdendo alguma coisa. e, sinceramente? isso é bem bom.
por isso, vou pular.
✶ meus links ✶
✶ escrevendo a newsletter de hoje, lembrei do curta marvin, da angela kirkwood. um passáro verde que descobre que não pode voar e sai numa jornada de autodescoberta pra ver qualé. tudo exagerado, excêntrico e engraçado como tudo que a angela faz. eu perco tudo quando ele tenta imitar a galinha colocando um ovo.
✶ esbarrei com o soot outro dia e me amarrei. é uma ferramenta para mapear e compartilhar ideias visuais, onde dá pra filtrar por cores, buscar imagens similares e pesquisar por palavras-chave. ele importa suas imagens, arquivos de design, vídeos, sites e moodboards do pinterest, do drive, do are.na e de qualquer outro lugar, organizando tudo de um jeito que foge do scroll linear — é mais orgânico e diferente do que estamos acostumados. ele se auto organiza e é incrivelmente rápido! já entrei na fila do convitinho.
✶ não faço ideia de como fui parar nesse canal, mas fiquei obcecado com esse vídeo sobre como a cena de jogos de luta hoje é super queer – e quem tá ganhando os campeonatos também.
✶ a ayo edebiri vai escrever um roteiro. de um filme do barney (!), pra a24. e o daniel kaluuya aparentemente achou isso incrível e vai produzir. absolutamente nada disso faz sentido, e talvez por isso eu ame tanto. daí eu lembrei do documentário doido do barney. um doc bem triste, cheio de coisas que eu nem imaginava sobre o tanto de ódio que ele gerava na época. pesadíssimo. fico me perguntando se o filme vai puxar pra esse lado também, meio terror. quero.